Movimento de Oposição Nacional

MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO NACIONAL

O Movimento de Oposição Nacional (MON) foi uma associação política e cultural, criada em 2010, que quis ser um “movimento permanente” com o objetivo de organizar iniciativas de formação de quadros e ações de rua, para agregar a extrema-direita e “intervir no Combate Nacional”. Não conseguiu singrar e, hoje, não é mais que uma página de Facebook. Mas uma parte dos seus membros criou o que veio a ser a Nova Ordem Social (NOS) de Mário Machado.

Ainda sem estar legalizado como associação, o MON foi tornado público numa sessão de apresentação a 18 de junho de 2010, numa sala do Novotel, em Lisboa. O Professor catedrático António Marques Bessa, do ISCSP, foi o orador convidado para fazer uma análise sobre a situação nacional de então e, depois, a direção do MON apresentou o Manifesto Essencial (12 Objetivos para Fazer Renascer Portugal).

"Os nacionalistas e os patriotas livres mais ativos devem ultrapassar as divergências secundárias e ir ao encontro dos portugueses mais despertos, para dar um sentido mais combativo e positivo à sua revolta, torná-la mais forte e convergente com outros" – panfleto de apresentação do MON

A direção do MON era exclusivamente composta por elementos do Partido Nacional Renovador (PNR, hoje Ergue-te!), que, por sua vez, foram candidatos por esta formação de extrema-direita às legislativas. É o caso de José Carlos Craveiro Lopes, Humberto Nuno de Oliveira, Vítor Luís Rodrigues, Alberto de Araújo Lima e Júlio Nogueira Tomé.

Como já tinham um partido onde militar, o MON apresentava-se como uma organização que se complementava a partidos políticos – leia-se, apenas o PNR – e visava uma concertação de esforços com o hipotético objetivo de unificar a extrema-direita. 

“Queremos articular uma rede de grupos diversos que convirjam na mesma direção, ao lado de todas as organizações nacionalistas e patrióticas. Será uma luta diversificada e abrangente por uma Nova Política, com responsáveis novos e uma nova organização, que vença o monopólio dos partidos, em todos os domínios possíveis”, lê-se num panfleto do MON. E deixou claro: “O MON não concorre com a atividade político-eleitoral dos Partidos, nem se confunde com um Partido – queremos ir além dessa visão estrita”.

Cinco semanas depois da sua apresentação pública, em agosto de 2010, Carlos Manuel Frederico Marques, Humberto Nuno de Oliveira e Vítor Luís Rodrigues registaram o MON – Movimento de Oposição Nacional, com sede na Rua Nova da Trindade, em Lisboa, no Instituto de Registos e Notariado de Lisboa. A associação teve um site atribuído, mas nunca foi devidamente construído, com a informação sobre ela a circular em blogues.

No seu Manifesto Essencial, o MON apresentou 12 objetivos (ou propostas) para “fazer renascer Portugal”. Entre eles destacam-se a redação de uma nova Constituição, que definiria um parlamento com apenas 20% dos lugares a serem ocupados por partidos e representativo das profissões e comunidades regionais e locais; um regime presidencialista com um presidente eleito por sufrágio direto e universal e que teria “controlo sob atos do Poder executivo e Judicial” – a separação dos poderes não existiria; o travão da imigração ilegal maciça [inexistente em Portugal] para defender a “cultura europeia, portuguesa e cristã”.

O MON estruturou-se nos meses seguintes e em 2011, um ano depois da sua fundação, organizou uma homenagem aos que considera que “deram tudo pela Pátria” em frente ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, e depois uma “Festa-Comício pelo Combate Nacional aos Partidos Traidores” no Largo Camões, em Lisboa, no 10 de Junho de 2011.

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Comício do MON no 10 de junho de 2012 no Largo Camões, em Lisboa.
Comício do MON no 10 de junho de 2012 no Largo Camões, em Lisboa. Fonte: Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira

O MON organizou ainda um evento para comemorar o Dia da Restauração, a 1 de dezembro de 2011, nos Restauradores, em Lisboa. Luís Filipe Graça, atual presidente da Mesa da Convenção do Chega, aparece a montar e a agitar as bandeiras do movimento ao lado do filho, Luís Graça, que fez parte da liderança do Escudo Identitário e viajou à Ucrânia, e de jovens boneheads (skinheads de extrema-direita), revelou a Sábado.

Com a entrada da troika em Portugal, em 2011, assistiu-se às maiores manifestações populares contra a austeridade do Governo de coligação PSD-CDS, liderado por Pedro Passos Coelho. Foi numa das manifestações convocadas pela Plataforma 15 de Outubro, a exigir a “suspensão imediata da dívida”, em Lisboa, que o MON apareceu pela primeira vez nas notícias.

Em janeiro de 2012, duas dezenas de membros do MON envolveram-se em confrontos com os manifestantes que marchavam do Marquês de Pombal até ao largo em frente à Assembleia da República, onde depois fizeram uma assembleia popular. Os manifestantes de esquerda cercaram os militantes de extrema-direita, gritando “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”, e houve uma breve rixa, até a polícia intervir, diz o Diário de Notícias.

A presença de militantes de extrema-direita foi encarada como tentativa de infiltração nos movimentos de descontentamento popular que então saíam às ruas portuguesas.

Meses depois, novamente a 10 de junho, o MON voltou a sair à rua para organizar um “comício nacionalista” para celebrar o “Dia de Portugal e da Raça” no Largo Camões. Meia centena de pessoas marcou presença, entre as quais vários boneheads, carregando bandeiras do movimento.

O evento teve como oradores Francisco Garcia dos Santos e Vítor Luís Rodrigues, que nos últimos anos tem colaborado com João Martins, da Associação Portugueses Primeiro, e com o Escudo Identitário. Vítor Luís Rodrigues esteve presente no grupo de mais de 20 membros de extrema-direita que foram à Associação de Estudantes da FCSH-Nova de Lisboa, depois do cancelamento do debate de Jaime Nogueira Pinto, em 2017. Também esteve na conferência Prisma, do Escudo Identitário, que trouxe a Portugal Olena Semenyaka, secretária do Departamento Internacional do Corpo Nacional, o braço político do neonazi Movimento Azov.

Vítor Luís Rodrigues é um velho veterano da extrema-direita portuguesa e, em 2015, foi o primeiro a anunciar a vinda a Portugal do italiano Francesco Saverio Fontana, da rede internacional neonazi Misanthropic Division. “Com muito prazer, e em nome do meu camarada João Martins, anuncio a realização de uma conferência, em Lisboa, com Francesco Saverio, um veterano italiano que participou na revolução ucraniana”, escreveu o dirigente do MON, citado pelo Jornal de Notícias.

Em 2014, o MON já tinha perdido o potencial de atração que poderia ter tido no seu início, como plataforma de convergência e de formação de quadros, e veio-se a transformar-se na organização-mãe da fase embrionária da Nova Ordem Social de Mário Machado, diz a Sábado.

Nesse ano, houve um primeiro encontro do futuro partido num hotel em Peniche, em 26 de abril, onde estiveram cerca de 50 pessoas, oriundas do MON, da Ação Democrática Nacionalista, da defunta Frente Nacional e do PNR. Também estiveram deputados do neonazi alemão NPD e do neonazi Aurora Dourada, cuja liderança foi condenada pela Justiça grega por dirigir uma organização criminosa. O encontro de sete horas resultou na escolha do nome da nova força política: Nova Ordem Social.

Dias depois, a 1 de maio, a página oficial do MON anunciou o NOS como “a nova organização política que vem afirmar-se no quadro do MON ao Sistema [partidário]”. Luís Filipe Graça, por exemplo, passou do MON para a NOS ao ser nomeado responsável pelo núcleo da NOS em Cascais.

Hoje, o MON é pouco mais que uma página de Facebook, onde partilha notícias e propaganda variada e comenta as atualidades do universo da extrema-direita portuguesa. Foi mais uma tentativa efémera da extrema-direita em prol da convergência e da formação de quadros.

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