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Menos Moedas para as pessoas sem-abrigo

Carlos Moedas tem sido incansável a exponenciar Lisboa como parque de diversões para quem tem dinheiro. O presidente da Câmara de Lisboa anunciou que vai retirar de Arroios o centro de apoio aos sem-abrigo. Para quê gastar tempo e dinheiro em soluções que ajudem estas pessoas quando basta pô-las longe da vista dos turistas e nómadas digitais?

Crónica 74
1 Junho 2023

Carlos Moedas, menino Carlos, o golden boy da Goldman Sachs, segue indefetível enquanto CEO de Lisboa. É absolutamente maravilhoso como tem as prioridades sempre certas e como gere a cidade como a sua empresa, e cuja maior função é agradar aos acionistas, neste caso, os turistas, nómadas digitais e investidores imobiliários. E os lisboetas? Ah, esses têm de se ir adaptando, vivendo pior, saindo da cidade, mas sabendo que é por um bem maior, para que possam dizer com orgulho que a sua cidade – apesar de já quase não conseguirem viver nela – é a preferida de milhões de turistas, e o lar para gente gira e rica do mundo inteiro.

O nosso menino Carlos tem sido incansável a exponenciar – num projeto que já vinha do Medina, também há que dizê-lo – Lisboa enquanto parque de diversões para quem tem dinheiro, e tomou mais uma medida certeira.

Anunciou que vai retirar do centro da cidade, ali da zona de Arroios, o centro de apoio aos sem-abrigo, e vai deslocá-lo para a periferia. É fascinante a capacidade que o menino Carlos tem de tratar como migalhas seres humanos que não usam calça bege e blazer azul-escuro, e varrê-las para debaixo do tapete. Para quê gastar tempo e dinheiro em soluções estruturais e socioeconómicas que ajudem estas pessoas, quando se pode só pô-las longe da vista para não dar mau aspeto aos turistas e nómadas digitais que querem comer as suas bowls de açaí com abacate (típico prato português), sem ter de ver pobreza? Até porque não há dinheiro para tudo.

Se já vai oferecer 30 milhões de euros públicos (sabem, aquele dinheiro que é nosso?) à Igreja para o Rezas Fest, para o qual ele está histérico e já só pensa em beijar a mão do Papa (fofo), acaba por não dar para outras coisas. O dinheiro não estica e há que fazer escolhas.

Ainda por cima, também pela questão (há quem chame crise, mas isso é mais os pobres) da habitação, há cada vez mais pessoas a viver na rua. Ora, se Lisboa é para continuar a ser completamente vendida aos grandes fundos imobiliários, a ser toda para alojamento local, e para atrair 10 milhões de turistas por dia, é normal que haja mais pessoas sem-abrigo (aumentaram 25% nos últimos meses). E por isso é que estas medidas para os varrer para fora da cidade são tão importantes. Faz tudo parte da mesma estratégia de gestão do menino Carlos para uma Lisboa sem pobres (à vista).

Atenção, ele não odeia pobres, até nem se importa que existam, só não podem é viver na sua cidade para não se correr o risco se passarem à frente de um grupo de turistas a comer um pastel de bacalhau com queijo da serra (também típico) e lhes estragar a experiência toda.

Que grande trabalho, menino Carlos, CEO de Lisboa, servo do dinheiro estrangeiro. Espero que durma de consciência tranquila com tudo o que tem feito, porque merece.

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